Natural de Aracaju, filho de Augusto Esteves da Silveira e Maria Catarina Mendes da Silveira, Jenner Augusto da Silveira, pintor, desenhista, escultor, cartazista, ilustrador e gravador nasceu no dia 11 de novembro de 1924 e faleceu no dia 03 de março de 2003, em Salvador/BA.
Com apenas seis meses de idade, Jenner ficou órfão de pai. A precoce ausência do genitor, a origem humilde e as adversidades de uma vida difícil não o desviaram de sua vocação, percebida, desde tenra idade, nos muitos desenhos e rabiscos escolares que fazia. Antes de fixar residência em Salvador, Jenner Augusto morou em Sergipe nas cidades de Rosário, São Cristóvão, Itabaianinha, Lagarto, Aracaju e Laranjeiras, onde copiou e recopiou inúmeras vezes os quadros do seu primeiro ídolo, Horário Hora.
Em 1945, realizou em Aracaju a sua primeira exposição. Em 1947, já mais entrosado no ambiente artístico da cidade, participou de algumas mostras coletivas e, finalmente, em 1948, após a realização de sua segunda exposição, substituiu os padrões acadêmicos pela perspectiva do modernismo.
Em 1949, morando em Aracaju, sob forte influência do modernista Portinari, seu segundo mestre, e motivado pelos movimentos de renovação das artes, pintou, graciosamente, as paredes do Cacique Chá com murais baseados em cenas históricas, no folclore e nos costumes de Sergipe. Esse trabalho é considerado como o marco da estética moderna em Sergipe.
Ainda em 1949, aconselhado por Portinari a estudar mais o desenho, transfere-se para a Bahia. Em oposição à Escola Acadêmica, participou do polêmico núcleo renovador da arte baiana, constituído por Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Rubem Valentim e Mirabeau Sampaio.
Inserido no forte movimento de renovação das artes, fez grandes amizades, a exemplo dos irmãos James e Jorge Amado, Raimundo Oliveira, Pancetti, Carybé, Mario Cravo Junior, Zé de Dome, Mirabeau Sampaio, Rubem Martins, Lênio Braga, Calazans Neto e Dorival Caymmi.
Artista atuante, em 1950 participou, pela primeira vez, do Salão Baiano de Belas Artes e da Mostra Novos Artistas Baianos, acontecimento considerado como marco inicial da arte moderna na Bahia. Em 1951, participou da 1ª Bienal de São Paulo e, em 1953, executou o painel “Evolução do Homem”, no Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador. Nos anos 60 realizou uma importante exposição com trabalhos abstracionistas no Museu de Arte Moderna na Bahia – MAM/BA e, em 1965, realizou a sua primeira individual em São Paulo.
Em 1966, já consagrado no Brasil, Jenner Augusto inicia uma exitosa carreira internacional. Esteve, a convite do governo americano, nos Estados Unidos, para inaugurar a mostra “Baianos na Filadélfia”. Nos anos seguintes, sempre como convidado, participou de exposições coletivas na Itália, na Holanda, na Inglaterra, na Espanha e em Portugal. Fez, com grande sucesso, exposições individuais na França e na Bélgica, onde conhece Paul Delvaux. Na década de 90, Salvador recebeu uma galeria de arte em sua homenagem, chamada Espaço de Arte Jenner. Em 1995, foi comemorado na Bahia o cinquentenário de suas atividades artísticas. Em 2002, a Sociedade Semear lhe prestou justa homenagem, dando o seu nome à Galeria de Arte.
Em 2011, a Sociedade Semear realizou na Galeria Jenner Augusto, em Aracaju, uma exposição retrospectiva com o lançamento do livro “Jenner, Vida e Obra”, de Mário Britto e Zeca Fernandes; no ano seguinte, essa obra foi relançada, em Salvador, pela Catabas Empreendimentos Imobiliários, em comemoração aos vinte e cinco anos de fundação da construtora.
Em 2012, foi realizada a exposição “Jenner, Cores de uma Vida”, no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, com o lançamento de livro homônimo, também de autoria de Mário Britto e Zeca Fernandes.
Na sua pintura, cuja matéria-prima original é a sua alma, retratou o sertanejo, a seca, a enchente, cenários sergipanos e cenas da ensolarada e multifacetada Bahia. Compôs, ainda, com maestria ímpar, naturezas-mortas; camponeses e meninos de engenhos; retratos de amigos e familiares.
Inspirado no bairro pobre de Alagados, periferia de Salvador, Jenner fez uma pintura essencialmente social e de protesto, denunciando a vida inumana de seus moradores. Através desse importante momento em sua iconografia, iniciado em 1963, alertou a subvida dos seus habitantes, que, no dizer do poeta modernista Carlos Drummond de Andrade, nos Alagados: “morrem sem viver”.
Jenner Augusto não transferiu para a sua arte, como a maioria das pessoas de vida mais difícil faz, os seus desencantos e as suas amarguras, pelo contrário, preservou, por todo tempo, a sua alegria de viver. Em sua pintura, quando fazia, por exemplo, os seus coroinhas, se “encarnava” em um deles, e, regido pelas suas lembranças de menino em Sergipe, retratava-os, ora brincando de bola ou de peteca, ora empinando pipas ou andando de bicicleta, ora indo à praia para pescar ou fazer piquenique ou, ainda, indo ao campo para colher flores e frutas.
Na verdade, Jenner Augusto, em seu extraordinário processo criativo, pintou de tudo e, como disse Jorge Amado, que o conhecia como poucos, “pintou com as cores de sua terra”, e, por essa razão, “há em cada um de nós alguma coisa da luz, da emoção, da beleza que ele criou”.
Por Mário Britto